Dona Maria tem uma baita dor lombar de muito tempo, que lhe traz uma série de dificuldades em sua vida. Sua dor não larga o osso não! Fica lá presente e lhe chamando a atenção durante o dia a dia. Já tentou de tudo e mais um pouco, sem os efeitos esperados. Dona Maria é uma típica paciente que se queixa de dor crônica:
– fala de dor o tempo todo
– a vida está de pernas pro ar por causa da dor
– tem uma pilha de exames
– toma remédio mesmo sem prescrição
– vai a tudo quanto é médico e fisioterapeuta
– sofre e se sente limitada em sua vida.
Porque será que a dor não vai embora e fica por ali querendo forçar uma amizade? Uma das várias e várias explicações para a dor tornar-se crônica é quando entendemos o mundo ao nosso redor como ameaçador. Nós e o nosso cérebro. Nós todos, na verdade. E quando isso acontece, uma das formas de nos proteger é ligar os sistemas da dor, só que de forma meio bagunçada.
Mas, a história dolorosa da Dona Maria começou com uma baita briga com sua filha, que queria sair de saia curta. Elas brigaram feio, deixando de presente uma primeira crise de dor nas costas. Tempos depois, nova crise, por um problema similar. Passou então a ser comum ter dor lombar ao discutir com sua filha. Então, o cérebro de Dona Maria entendeu que precisava proteger “aquela que o portava” e ligava os sistemas dolorosos imediatamente.
Até que um belo dia, Dona Maria começou a ter lombar por qualquer discussão, com a filha, com seu cachorro, ao ver duas pessoas discutindo no bar e até mesmo quando discussões ocorriam na sua novela preferida. Quando acontecida alguma briga, Dona Maria tinha dor lombar. Teve até um dia que ela leu sobre uma discussão no jornal e começou a colocar a mão nas costas.
Porque será que ela passou a “ver dor em tudo”? Porque seu sistema reagia daquela forma?
Os estímulos que ela absorvia durante as brigas (ambiente, tensão, estresse), seja lá onde ocorrida, eram então interpretados como ameaça e seu sistema nervoso passou a ficar nervoso, tendo como primeira ação “ligar a dor” em suas costas. E o que antes era um evento específico, como enfrentar a filha, passa a ter as mesmas respostas de forma generalizada quando Dona Maria é exposta até mesmo a briga entre mocinho e bandido na novela.
A generalização de estímulos é o que há em termos de cronificação aprendida sobre a dor. E recentemente a “Teoria da Imprecisão Cortical”, proposta por Moseley e Vlaeyen em 2015 retrata, em teoria, como o cérebro processa estímulos de forma organizada e como a generalização dos estímulos contribui para a dor crônica. A imprecisão cortical é assim: escolher quem você adiciona no facebook para começar a amizade. Se você adiciona qualquer um, então todo mundo entra na sua rede de forma generalizada e você nem sabe qual a procedência da amizade. Mas, mesmo assim adiciona. Mas, mesmo assim sente dor.
É como o estudo da dor: se você quer ler sobre tudo, vai entrar em curto circuito de forma generalizada!
Artur Padão