“Tem um lugar diferente lá depois da saideira?” Sim, claro que tem! No tratamento da dor, esse lugar é bem longe do consultório. Ao planejar a alta de um paciente, mostramos que foi alcançada a meta (sem trocar a meta) e todos estão felizes por ter ido tudo bem. E neste último dia, é quando aplicamos o tratamento “saideira”, ou seja, a última rodada de tratamento da dor.
Esse tratamento tem uma importância muito, mas muito grande. É a partir da clássica saideira que se pensa em ir embora do bar, apesar de muitos quererem ficar por lá. E quando se pede a saideira de um tratamento da dor, muitas dúvidas rodeiam o tico e o teco:
– como vai ser?
– e se eu tiver dor?
– gosto tanto de vir aqui!
E se “tem bandeira que recolhe e tem bandeira que hasteia”, a saideira é uma preparação para uma nova etapa. Em dor crônica, essa sim é uma etapa complexa. A vida tem que seguir adiante, sem aquela dependência do terapeuta dizendo o que o paciente tem que fazer. E quando o paciente consegue autonomia suficiente, está na hora da última rodada.
O que tem nessa “última rodada”?
Na verdade, é um momento de despedida com cara de até breve. Pingo nos “is”, metas alcançadas, bola pra frente e carimbar a alta do paciente no prontuário. Neste dia, não interessa a técnica e seu efeito. Neste dia, interessa aquele abraço e/ou aperto de mão para concluir a parceria entre paciente e terapeuta.
E com isso, depois da saideira, depois do ultimo gole analgésico terapêutico, se beber não dirija. Oi? Sim, mantenha o seu feijão com arroz que a mamãe natureza faz o resto!
A saideira é o sucesso terapêutico. Agora, se você preferir mais uma dose, e outra dose e mais uma, não tem saideira. Não tem alta! Não tem sucesso! Alguém vai embora, paciente ou terapeuta!
Artur Padão