Uma das principais etapas da avaliação e mensuração da dor é entender a(s) palavra(s) que o paciente associa com seus sintomas dolorosos. Chamamos essas palavras de descritores de dor.
Dar nome a algo que sentimos é uma assinatura pessoal e intransferível. Diversas classificações já propostas, como tipo de dor, mecanismos, forma de descrição e bla bla bla tentam agrupar palavras que também tentam facilitar nossa vida. SQN é tão simples assim.
Em mais de 50% das vezes (é o que eu acho), conseguimos fazer uma associação entre uma “palavra dolorosa” e um mecanismo. Palavras como queimação, dormente, choque e formigamento tem uma forte associação com dor neuropática (“chiliquinho” do sistema nervoso). Palavras como tensão, cansaço, peso e fisgadas já nos levam a pensar em dor musculoesqueletica (um mundo a ser explorado).
Para facilitar nossa vida, quando o paciente não consegue dizer além de “doi e é isso ai”, você pode lançar mão de uma ferramenta mágica chamada Questionário de Dor de Mcgill, que agrupa 72 descritores diferentes em 4 grupos distintos: sensitivos, afetivos, avaliativos e miscelânea.
http://www.scielo.br/scielo.php…
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21444194
Nem todos os descritores tem um envolvimento físico. Queimação, peso, fisgada, tensão parecem bem físicos. Amedrontadora, mortal, cansativa, exaustiva e estressante parecem bem emocionais.
Vida real: o paciente vai chegar e você vai perguntar como é sua dor. Deixa ele falar, vê se rola pelo menos um descritor. Caso não, dê algumas dicas, fale de alguns tipos de dor pra ver se aparece uma luz cortical. Se você estiver acostumado a usar o McGill, manda brasa. Alguma coisa sai, nem que seja “dói e é isso ai”.
Vida surreal: Como é sua dor, pergunto eu um dia: “ahhh, é como um vácuo dentro do ombro”…Oi??????? Moleza não…
Ter calma e paz no coração na hora de ouvir o que o paciente fala é um ponto chave para facilitar a transformação da dor em palavras dolorosas. Se ele não para de falar e mistura tudo o que você pode imaginar (menos a dor), respire fundo com calma e não entre na onda dele.
“Errar é humano. Colocar a culpa em alguém é estratégico”
Sábias palavras dolorosas!
Artur Padão – Dorterapeuta