Em 1664, a dor foi entendida como um distúrbio que viajava ao longo dos nervos até chegar ao cérebro. O corpo era uma máquina e a dor um maldito “bug”.
René Descartes, filósofo, Edmur Paranhos Jr. da época, foi o cara que trouxe uma pitada de ciência para o estudo da dor.
De volta do túnel do tempo, descartes foi descartado pela própria ciência que criou. Será mesmo?
“Não me Descartes, por favor” – Uma série de artigos e livros nos últimos anos se preocuparam em explorar a educação em dor como estratégia de tratamento. Sugerem que o tipo de informação faz toda a diferença. Quanto mais se fala de anatomia, biomecânica, lesão ou doença, mais nos afundamos no modelo biomédico. E, por isso, ainda estamos tateando a época dele.
“Não me Descartes, por favor” – praticamente todas as técnicas e modelos de tratamento da fisioterapia são baseados em explicar a dor por vias de transmissão, como se a dor fosse um estímulo viajando ao redor das galáxias nervosas. Se chamamos dor de estímulo, então devemos interromper o estímulo para interromper a dor. Já vimos que isso não rola né?
“Não me Descartes, por favor” – na época de Descartes não tinha óleo de peroba para a cara de pau dos que pensavam em ser contra. Hoje, muitos colegas mereciam tomar uma dose desta. Se queremos que o cérebro receba o prêmio Nobel, devemos respeitar e não descartar Descartes.
“Não me Descartes, me recicle” – seja um agente da natureza não doloroso. Não contamine a ciência com poluição dolorosa, recicle o que você não quer mais em casa e decore com o que você gosta, mesmo que seja “old fashion”.
Descartes? Reciclado!
Artur Padão – Dorterapeuta
Bom Artigo.
Sugiro a leitura da Suma teológica de Santo Tomaz de Aquino (pars prima secunde questão 35), onde muito anterior a Descartes, e certamente bem conhecido por este, tratava a dor em sua metafísica.
O que Descartes fez foi descartar os conceitos anteriores e não reciclá-lo. O erro de Descartes foi sua dúvida metodológica, que ao ser aplicada a ele mesmo, traz o mau a que você se refere neste texto.
Portanto não cometamos o erro de Descartes, reconheçamos que o novo conceito de Dor de 2019 traz mais elementos medievais (ontológicos e metafísicos) sem necessariamente descartar o componente corporal Funcional e fisiológico da dor.