Lesão tecidual: quando vem a dor?

Desde os primórdios até hoje em dia, as lesões de tecidos como pele, músculos e articulações causam dor. Fato este consumado pelas pessoas, pela ciência e pelas mídias sociais. Quando uma lesão ocorre, ligamos uma série de sensores e alarmes no corpo, para proteger o local e consequentemente curar a lesão. O caminho de ida do tecido ao cérebro para avisar ao sistema nervoso é a nocicepção, ou seja, a detecção nos tecidos do que é potencialmente nocivo ao corpo.

Bem simploriamente falando, a dor vem como resultado de uma ameaça, justamente para proteção do corpo. Então, se a lesão tecidual é uma ameaça real ou potencial, a dor aparece. Se o homem é primata e o capitalismo é selvagem, então fomos estimulados a entender que lesão tecidual é algo doloroso de se sentir e ver.

Mas, quando realmente a dor vem após uma lesão tecidual?

No sistema nervoso, não existe garantia de sentirmos dor quando ocorre uma lesão. E a presença de lesão é muito comum, especialmente os processos degenerativos pelo envelhecimento natural. E isso é demonstrado em vários estudos onde os pacientes tinham lesão, mas não tinham dor ou tinham dor, mas não tinham lesão:

Dor no ombro

http://bjsm.bmj.com/content/early/2018/04/12/bjsports-2018-099063

https://www.jospt.org/doi/abs/10.2519/jospt.2018.0102

Dor lombar

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4464797/

http://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJM199407143310201

Síndromes funcionais como fibromialgia e cólon irritável

https://academic.oup.com/bjaed/article/16/10/334/2288619

Outro doloroso questionamento aparece quando vamos estudar o que acontece no cérebro ao processar informações de ameaça. Cerca de 80% das ameaças que sofremos em nosso dia a dia são identificadas pela visão, em um circuito neuronal chamado de saliente. A palavra saliente tem vários significados, mas neste caso chama a atenção da importância que a ameaça recebe. Então, se a lesão real ou potencial é importante, receberá toda a atenção do cérebro. Seja lá qual for o tamanho da lesão em si. Mais que isso: a ansiedade, o medo, as crenças e diversos outros componentes (incluindo os biológicos) são mais importantes para sentirmos dor do que a lesão tecidual.

Muito interessante, complexo e que coloca em xeque toda uma história milenar sobre lesão de tecidos e dor. Quer mergulhar neste universo?

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5826179/

https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0005796716301310

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5126099/

Agora sim eu me perdi nesta selva de pedras! Podemos já mandar um abraço para a dor da lesão tecidual?

Artur Padão

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