Cada vez mais os profissionais de saúde, pelo menos no manejo da dor, tem olhado para abordagens mais integrativas, ou seja, juntar várias peças de quebra cabeças diferentes para no fim conseguir olhar o paciente como um todo. Olhar assim é olhar de uma forma globalizada, para tudo e todos, para abraçar o mundo doloroso de cada paciente e acreditar que é possível ser biopsicossocial.
Como então podemos tratar o paciente como um todo se existem distintas profissões na área da saúde que se complementam? Ou será que conseguimos ser profissionais completos que dão conta do recado doloroso?
Se somos distintos, então não somos completos. Por isso, não há possibilidade de tratar as pessoas como um todo única e exclusivamente sozinhos. Vários métodos, conceitos e abordagens vendem este multi pacote de ter uma visão global do ser humano, o que não procede. Se quer ter visão global, temos que passar um pouco na tangente de músculos, fáscias, articulações e nervos. Temos de ser capazes de entender a experiência dolorosa por múltiplas visões, habilidades e dimensões que vão além da capacidade individual de cada um de nós.
E dentro desta utópica visão global do ser humano que individualmente não alcançamos, temos o também utópico modelo biopsicossocial, que consegue (só ele próprio) desvendar mistérios nas dimensões biológicas, psicológicas, sociais, ambientais e outras a mais. Este super humano profissional biopsicossocial só existe em livros, artigos, contos de fadas e no mundo virtual. É muito importante buscarmos uma amplitude de conhecimento para cada vez mais entender as relações da dor com a pessoa que a sente, o seu meio ambiente, sua vida e tudo a mais. Novamente, o modelo biopsicossocial não passa de uma ótima forma de enxergar, teoricamente, as pessoas como um todo.
Não tratamos ninguém como um todo. Tratamos sim as pessoas dentro de cada expertise profissional, nos preocupando com questões além da nossa prática individual. É para isso que o bla bla bla do modelo biopsicossocial serve e servirá, para buscarmos além da nossa compreensão e ter sempre uma ajudinha dos universitários quando “a verdade está lá fora”.
Artur Padão