Dor, dolorido, doido. Desvendando o questionário de dor de Mcgill

mcgill dorSe a gente mal consegue falar sobre coisas que incomodam no nosso dia-a-dia, será o mesmo para dor? Dar nome ou tipo a dor depende principalmente de tudo aquilo que já nos aconteceu de desagradável ou que pensamos que possa ser desagradável. Muito do que os pacientes falam sobre a dor é completamente ignorado pelos profissionais de saúde, pois o sistema nos faz trabalhar como burro de carga ou toque de caixa.

Para um grande consolo nosso, o Questionário de Dor de Mcgill não resolve o problema, mas mostra a maneira como a pessoa identifica aquilo que sente. Consegue dar nome a dor que tanto incomoda e que por sinal, a palavra “incomoda” está por lá.

Este é um questionário multidimensional, composto por várias sessões: diagrama da dor, descrição de fatores agravantes e de alivio, avaliação da intensidade. Porém, o Questionário de Dor de Mcgill ganhou a fama mundial pela avaliação dos descritores da dor. São 20 grupos de palavras onde cada uma delas é um tipo de dor. Isso dá um empurrãozinho na pessoa para que se ache alguma palavra que pareça com sua dor.

São 4 grupos grandes e divididos em 20 grupos menores:

– 10 grupos de 42 palavras relacionadas às sensações físicas

– 5 grupos de 14 palavras relacionadas da parte afetiva

– 1 grupo de 5 palavras que fala da dor de uma forma geral

– 4 grupos de 17 palavras que não se encaixaram nos grupos acima, chamado de miscelânea.

A partir destas palavras, podemos ter uma idéia de como é a dor daquela pessoa. Os valores são somados e no final temos dois resultados: índice de dor (tipo uma nota final da dor) e número de descritores (quantos grupos foram marcados). O resultado final não é pra lá de interessante não. O interessante mesmo é ver como os tipos de dor mudam ao longo do tempo, com ou sem tratamento.

Claro que existem críticas construtivas a favor e contra.

* CRÍTICAS BOAS

1. É o único questionário que avalia várias dimensões da dor

     Aspectos físicos da dor

– sensitiva – o que sentimos.

– descriminativa – onde sentimos e diferenciamos das outras sensasões.

     Interpretação da dor

– afetiva – que emoções estão envolvidas.

– motivacional – quais as motivações frente a dor.

     Compreensão da dor

– cognitiva – nosso entendimento da experiência dolorosa

– avaliativa – dor de uma forma geral

2. É de fácil aplicação

Mesmo que existam palavras meio difíceis de entender, é uma boa opção para ajudar a pessoa a dar nome (qualidade) a dor.

3. É reconhecido em todo o mundo

Encha o peito e diga isso. Vai ganhar créditos com a pessoa que você atende. Valorize a ciência da dor crônica.

4. Ajuda a avaliar a evolução da dor durante o tratamento

Você pode comparar os resultados em qualquer momento do tratamento. O interessante é que sempre podem haver mudanças nas respostas, mesmo que você aplique o questionário pouco tempo depois. Se a pessoa está tratando, tendo piora ou melhora, a maneira como vai descrever a dor muda.

* CRÍTICAS NÃO TÃO BOAS

1. Não existe a mesma quantidade de grupos de palavras

Para as pesquisas isso é ruim e também não conseguimos comparar os grupos entre si.

2. A dor é uma experiência subjetiva

Sendo assim, o questionário pode se tornar irrelevante.

3. Compreensão das palavras

Pode ser difícil entender as palavras principalmente se a pessoa não souber o que significa. Não devemos explicar o significado de cada palavra senão perde a graça do questionário.

Por isso, o Questionário de Dor de Mcgill:

– Serve para a gente entender o quanto a dor é complexa.

– Serve para a gente entender o quanto o ser humano é doido por palavras que falam a mesma coisa: dor.

– Serve para os profissionais entenderem mais sobre a “simples e fácil lombalgia ou cervicalgia” que insistimos em tratar da mesma maneira sempre.

– E por fim, serve para pensarmos mais na vida. Realmente conseguimos entender sobre a dor daquela pessoa?

Use e abuse (nem tanto)

Artur Padão

13 comentários sobre “Dor, dolorido, doido. Desvendando o questionário de dor de Mcgill

  1. Através da pontuação obtida pelo índice de dor e pelo número de descritores escolhidos é possível classificar a dor do meu paciente como por exemplo no índice de dor: 1- 15 = “leve”; 16 – 25 =”moderada”; e assim por diante?

    1. Mariane. O índice de dor não está diretamente ligado a intensidade da dor neste questionário, então essa relação que você descreveu não procede. Mas, o que procede em relação a intensidade quando o paciente preenche os descritores no questionário, é que a primeira palavra de cada grupo representa uma dor de menor intensidade e a ultima representa de maior intensidade. Mas, é subjetivo e o questionário tenta transformar essa subjetividade em números.
      Abraço

  2. O que seria então o número de descritores e o índice da dor ? E como avalia-los e transcrever esse resultado ? E se de 78 no índice da dor meu paciente fizer 34 o que significa ? E como po fim saber se a dor dele é mais sensutivá ou afetiva ?

    1. Olá Roberto. O Mcgill é um questionário multidimensional, ou seja, avalia diversas características da dor, sendo assim bem amplo. É o questionário mais usado em pesquisa para este fim. Agora, se vc quer um questionário ou instrumento para avaliar apenas a intensidade ou nível de dor, deve usar uma escala unidimensional de intensidade, como as escalas visuais ou numéricas. abraço

  3. Artur, boa tarde! Gostaria de saber se em cada grupo o paciente pode marcar quantos itens quiser?

    Att. Maíra

    1. Olá Karen. Especifico para dor lombar não. Existem outros 2 questionários multi que são a Escala EMADOR e o Inventário Breve de Dor.

    1. Jomard. existem 4 versões o mcgill em portugues e todas disponiveis online lá no google. Veja qual lhe interessa. Valeu

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