Desvendando os descritores da dor: a palavra falada

A dor queima? Arde? É cansativa? Pesada? Intensa? Fraca? Irrita? Irradia? As dores que sentimos podem ser transformadas em “palavras faladas”, ou seja, os clássicos descritores da dor. Também conhecidos como “qualidade da dor”, são um importante meio de contato para entendermos os motivos para a dor estar por ali.

Quem descreve a dor é quem a sente. Isso é um fato. O papel do profissional de saúde é usar os descritores para montar seu quebra-cabeça e poder ajudar as pessoas com dor. Portanto, os descritores são palavras que associamos a dor, ou seja, palavras que achamos com que a dor se parece.

São muitas palavras, muitas mesmo. A dor pode ter várias palavras diferentes que significam a mesma coisa. Um exemplo prático é a palavra dormente. Ou seria adormecido, dormindo, dormência, adormecimento? E queimação, queimando, queimor, queima, queimadura? O português do brasil prega essas pegadinhas da dolorosa palavra falada.

Um forma mais simples de entendermos os descritores é separá-los em grupos específicos. Isso é o que ocorre no famoso Questionário de Dor de Mcgill, que reúne um grande número de descritores em 4 grandes grupos: sensoriais, afetivos, avaliativos e miscelânea.

Se a dor é em pontada, queima, irradia, fisgada, sensível ou pesa, devo abrir meus olhos para descritores de sensações corporais. Queima e irradia são descritores comuns a dor neuropática. Fisgada, pesa, queima e pontada são descritores comuns a dor musculoesqueletica. “Pesa” tem uma relação próxima com dor muscular, “sensível” chama a atenção para um possível quadro inflamatório e “fisgada” pode indicar “problemas de junta”.

Uma dor passageira, espalhada pelo corpo, andarilha, intensa e “não me toque” pode indicar sensibilização central (alarmes ligados). Porém, se a descrição da dor é mais emotiva e comportamental, podemos ter palavras como cansativa, maldita, chata, “não aguento mais” e ódio.

Podemos ir além. Se a dor é fria, enjoada, intensa e cansativa, temos que pensar em mecanismos neurovegetativos. Tensão, cansativa e fisgadas mexem com os mecanismos motores e neuroendócrinos. Caso a dor seja mal estar, passageira e também do tipo andarilha, os mecanismos podem ser imunológicos.

Não é moleza, não é? O que você fala pode ter implicações dolorosas sobre o resultado final. Por isso, olhos nos olhos, boca na boca, ouvido no ouvido, mão na caneta ou teclado ou tablet e atenção total em como a dor “é falada”.

Artur Padão

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