Tomando por base o estudo de Childs e colaboradores (2015), vamos iniciar uma doloroso bate papo sobre os sistemas de saúde.
O estudo mostrou que se o paciente procurar primeiro o fisioterapeuta, ao invés de ir diretamente no médico, o paciente:
– melhora mais rápido
– tem menos custos com tratamentos
– fazem menos exames de imagem
– tem menos chances de fazer cirurgia
– fica “na ativa” mais rápido
Se 80 a 90% das dores lombares, por exemplo, são provocadas por problemas musculares e nas “juntas” (dor musculoesqueletica), então cabe ao fisioterapeuta realizar um diagnóstico (funcional), prescrever tratamento e ter uma estimativa de prognóstico. Show!
No Brasil, os pacientes fazem um caminho inverso. Normalmente procuram um médico especialista e depois chegam a fisioterapia, muitas vezes com tratamento prescrito. Não sei quando este modelo vigorou no Brasil, mas sabemos com certeza que é ultrapassado e atrapalha a dinâmica dos cuidados com a saúde. Os médicos costumam “prescrever fisioterapia” pois era assim e é assim em vários serviços. Já os fisioterapeutas não costumam “prescrever medicina” ou procedimentos médicos como remédios, bloqueios e cirurgias. Já passou da hora disso mudar para melhor.
O fisioterapeuta, dentro da sua formação acadêmica, aprender a tratar condições de sua expertise, especialmente focando na funcionalidade. Mas, será o fisioterapeuta capaz de identificar as condições dolorosas não tratadas pelo fisioterapeuta que estão entre os 10 a 20% restantes? E as condições graves (também conhecidas como “red flags”) como tumores, infecções, doenças reumáticas e outras a mais? O fisioterapeuta irá calçar as “sandálias da humildade” e encaminhar a um médico especialista?
O fisioterapeuta tem o papel de primeiro contato. Para isso, faz avaliação, solicita exames, realiza diagnóstico e prescreve tratamento. Tudo o que deveria acontecer no Brasil. Agora, enquanto existir a “fisioterapia de convênio” prescrita pelo médico e tecnicamente aplicada por fisioterapeutas, não haverá espaço para tal atuação. O paciente acaba sendo tratado como um carro é tratado numa fábrica. Até o carro fica melhor 🙂
Em contrapartida, o médico também tem várias limitações na avaliação e prescrição de tratamentos para a dor, bem como no exame físico musculoesqueletico. Devido a isso, o tratamento já começa mal indicado e o paciente chega muito tarde a fisioterapia, normalmente depois de vários exames de imagem, muitas vezes desnecessários, com a dor já crônica e com incapacidade funcional moderada. Complica a vida e aumenta o nível de complexidade do tratamento.
Na verdade, falta formação acadêmica e profissional a ambos, o que cria farpas e atritos, dificulta a integração e isola as propostas de tratamento. Claro, todo mundo é orgulhoso e quer ser aquele que faz o diagnóstico. Dor não é diagnóstico. Mas, existem sim condições dolorosas como a fibromialgia, mas que este diagnóstico não esclarece em quase nada as capacidades, incapacidades e funcionalidades dos pacientes.
Lombalgia, cervicalgia, gonalgia e ombralgia? Só me diz aonde doí! Fibromialgia? Só me diz que o sistema do paciente é desregulado! Fascite plantar? Dói no pé e nem inflamação tem na maioria das vezes. Então dor não é e não deve ser considerada por si só um diagnóstico.
Quem o paciente deve procurar? Se for primeiro o médico, pode demorar a chegar ao fisioterapeuta. Se for primeiro ao fisioterapeuta, pode demorar a chegar no médico. Essa deve ser uma escolha do paciente. E quando você trabalha em equipe, ai sim pode não demorar em nada.
Artur Padão