Os pecados capitais são conhecidos como vícios dos seres humanos, merecedores de alguma punição, de acordo com a religião católica. Ao longo do tempo, se popularizaram e foram sendo incorporados a rotina, como algo que faz parte das culturas.
Dores crônicas são vistas por muitos religiosos como algo punitivo, necessário ou castigo a algum pecado. “Errar o alvo” significa “pecar” e talvez a dor crônica seja um ponto fora da curva, um alvo errado até que algum sistema nervoso pague pelos seus pecados sensibilizantes.
Será o sistema nervoso de pessoas com dor crônica um pecador de carteirinha? Veremos 7 bons motivos dolorosos para isso:
* A IRA dos neurônios – – a atividade neuronal, já aumentada, se amplifica e não dá descanso pra ninguém. Neurônios acima e abaixo também se deixam tomar conta pela fúria neuronal, seguindo para a persistência da sensibilização central (somação temporal, ampliação dos campos receptivos…). Dias de fúria pela frente.
* A PREGUIÇA da fibra C – – andando a passos de Waking Dead, a fibra C transmite estímulos nociceptivos de forma mais lenta e mantém os estímulos passeando por mais tempo no sistema nervoso. Demora a desligar seu alarme e ainda por cima acorda os vizinhos neuronais após um rolezinho com as fibras A delta. Se o alarme demora a desligar, a sensibilização fica por lá. Muitas preliminares, pouca ação!
* A GULA do glutamato – – para os curtidores esquecidos, o glutamato é o neurotransmissor mais excitatório que temos. As doses extras de glutamato no sistema nervoso são tóxicas para os interneurônios (e para o fígado também), levando a sua degeneração. Absinto faz cócegas perto do glutamato.
* A INVEJA dos opioides – – os neurotransmissores inibitórios, na verdade, se acham demais. Crentes que estão abafando, acabam se dando mal quando o assunto é dor crônica. Dizem que a inveja mata. As endorfinas e a GABA “estão se gabando demais” e acabam perdendo seu trono inibitório na medula.
* A LUXÚRIA da glia – – como um bom chef de cozinha (neurônio), seus funcionários (células da glia) devem trabalhar com o desejo da perfeição. Entretanto, uma das formas da glia ajudar a atrapalhar o serviço, por exemplo, é proliferando os astrócitos e “imunologizando” pelas micróglias. Esse é dos mecanismos que facilitam a persistência da dor. Não sabe brincar, não desce pro play.
* A COBIÇA da medula – – o desejo de controlar tudo faz com que a medula se dê mal de vez em quando (dor aguda) ou de vez em sempre (dor crônica). Querer sempre mais, faz com que a medula ganhe um “pedala robinho” de respeito no corno posterior, perdendo sua capacidade de filtrar adequadamente essas “impurezas” (estímulos nocivos).
* O ORGULHO do cérebro – – o manda chuva da dor, o presidente dos neurônios, a fonte da vida e o cara que manda na dor. Orgulhoso de manter uma super rede neuronal interconectada, o cérebro na dor crônica não dá conta do recado. A pressão é grande, pecaminosa, intensa e atrófica. O orgulho cega e o cérebro acaba não enxergando o curto circuito neuronal, esquece de como se pula amarelinha ou de atravessar corretamente na faixa de pedestres.
Redes neurais eu pequei, por isso peço sua atenção…bla bla bla…ok. 150 distrações, 400 hipnoses e 100 de exposição gradual. Coloca também um pouquinho de terapia manual e exercício físico todo o dia para combater seus pecados. Não esqueça a educação em cima da mesa e da clássica psicoterapia. Manda aquele abraço de longe para as cirurgias.
Seu sistema nervoso é pecador? Então você tem dor crônica!
Artur Padão