Desde a proposta de Engel, psiquiatra preocupado com seus pacientes deprimidos na década de 70, o modelo biopsicossocial (BPS) proposto por ele ganhou um espaço absurdo no manejo da dor. Claro, todo mundo já sacou que a dor pode gerar uma série de consequências desastrosas a vida das pessoas. E por isso o modelo BPS tem tudo a ver, apresentando a integração de fatores biológicos, psicológicos e sociais. E muito mais, obviamente.
Bem antes do Pai do modelo BPS, diversos outros modelos já pensavam nesta integração, como na medicina tradicional oriental, osteopatia e outros com uma visão global (não na globo) do corpo, do mundo e da vida, preocupados com a saúde das pessoas.
O que na verdade é o modelo BPS? É a fantástica fábrica de chocolate. Um mundo “encantado” da área da saúde, onde espera-se encontrar múltiplas formas, cores, sentidos e, claro, chocolate a vontade. Ou dor a vontade. Sim, encontramos dor a vontade em vários domínios / fatores biopsicossociais, uns mais relevantes, outros menos. Mas, encontrar diversas “receitas” para a dor, com seus “ingredientes” (domínios) que exaltam ou inibem seu sabor não é difícil. Pelo contrário. O que é realmente difícil e torna o modelo BPS irreal ou utópico ou ilusório ou “encantado” é a própria imaginação do terapeuta.
Voltando a era moderna, o interesse pelo modelo BPS não significa “ser o modelo BPS”. Não existe até o presente momento uma formação acadêmica totalmente voltada para o BPS. O mundo não é assim, não vivemos desta forma. Por isso que há um grande potencial agregador aos profissionais de saúde. Eu disse aos profissionais e não ao profissional, ou seja, só em equipe. Querer ser mais humanista (menos robô), integrativo, menos mecânico e querer entender o que se passa na vida das pessoas com dor, já é um grande passo para se aproximar do modelo BPS. E isso temos que admitir que é um grande diferencial terapêutico.
Mas, não adianta! Está no sangue ser biomédico. Está no sangue encontrar a vértebra fora do lugar. Está no sangue buscar o transverso perdido. Está no sangue culpar o ponto gatilho.
Por isso, não existe profissional BPS, mesmo que várias pesquisas sugiram isso. Ora bolas, vamos colocar os pés no chão sem sapato para disfarçar. Não existe profissional que entende de tudo. E num mundo extremamente especializado como o atual, nossa tendência é ser extremamente unidirecional. E você só terá uma oportunidade de sair desta caixa quando você trabalhar em equipe.
O modelo BPS veio para ficar, para nos mostrar como ainda temos que aprender. Precisamos correr muito atrás de uma forma mais honesta de ajudar as pessoas com dor. Não dá pra ser o que um artigo diz, é apenas um pedaço de papel definindo nossas condutas!? A gente pode seguir o que o papel diz e a desapegar das nossas crenças mecanicistas. Precisamos sim desapegar das técnicas maravilhosas, que muitas vezes amamos. OLX!
Melhor dizer: sou fisioterapeuta, médico, dentista, psicólogo, prof educação física, veterinário, terapeuta ocupacional, nutricionista e/ou biomédico que “tentamos” trabalhar dentro de um modelo BPS do que se dizer sou BPS. Nossas origens nunca devem ser esquecidas. Mas, nunca seremos BPS. É mais um paradigma, extremamente subjetivo em nossas entranhas.
Portanto, se você é um profissional de saúde que acredita nesta integração de múltiplos fatores que levam as pessoas a ficarem doentes, mesmo que seja dor, você está no caminho certo. Mas, não queira ser o que você não será. Não faça um papel que não lhe pertence. E saiba muito bem quais são seus limites e abra mão quando você não conhece (esse é bem difícil).
Ser BPS é ser o próprio modelo. É ser o dono da fantástica fábrica de chocolate! É como amar tanto uma técnica que você se torna a técnica. Somos o que podemos ser. Não podemos ser utopia, porque nosso paciente não melhora com utopia. Mas, adoram chocolate!
Artur Padão