A primeira vista parece um pacote de encomenda via sedex, mas foi com ciência que a caixa de espelho ou terapia do espelho foi desenvolvida para ajudar no controle da dor de pessoas que sofreram amputações. A dor crônica por amputações, ou dor fantasma, é daquelas das mais bizarras, esquisitas e de difícil controle. Como então é possível sentir dor numa região que não existe mais?
O cérebro é o nosso Al Capone, manda em tudo. E claro, as ordens são executadas de acordo com suas exigências. No membro amputado (mãos e braços, pés e perna, dente) a massa do cérebro (neurônios e afins) que comanda a parte do corpo amputada perde volume e deixa de funcionar corretamente, ou seja, da mesma forma que os músculos atrofiam (ficam molengas) quando não fazemos exercícios ou ficamos presos a uma cama ou cadeira de rodas. Outra teoria sugere que os neurônios que eram responsáveis pelos movimentos da região amputada e por sua representação no cérebro migram (corram) para outras áreas próximas. Ex. área da mão vá na direção da área dos braços, misturando tudo.
O cérebro, então, muda na sua estrutura e função, entra numa espécie de curto circuito, mas consegue continuar seu trabalho para manter outras funções do corpo.
O que isso tem a ver com a dor?
A associação entre a lesão do nervo da parte amputada e a mudança no funcionamento do cérebro causa o que chamamos de dor por desaferentação. A lesão do nervo é tão forte que causa uma série de estímulos para o cérebro, como uma bomba de informações ao mesmo tempo, não sendo fácil de processar tudo. Por isso, é uma dor causada pela dificuldade do sistema nervoso em se organizar corretamente para se adaptar após o trauma da amputação e essa dor é de difícil controle. Mas não pode ficar assim tudo problemático no sistema nervoso. Nossos neurônios conseguem ajudar uns aos outros, irmãos de sangue praticamente, e tentam suprir a necessidade da área cerebral que perdeu sua função. Quando essa nova organização acontece algumas pessoas relatam que percebem a mão ou pé na área que foi amputada e também sentem dor na mão, pé, perna, braço ou dente que não existe mais.
Muito bizarro, mas é simplesmente como tudo se transforma na nossa natureza, pura adaptação (neuroplasticidade).
A caixa de espelho ajuda o cérebro da pessoa a entender que ainda possa existir função naquela região amputada, pois a pessoa consegue ver novamente o que não existe mais. O espelho mostra a imagem e ajuda a ativar aquela área do cérebro que teve sua função alterada. Cria-se então uma ilusão.
Algumas pessoas relatam que é como se a mão ou pé ficassem tão tensos e fechados, provocando dor intensa. E reprodução da imagem e dos movimentos através do espelho pode ajudar a “desamarrar a região”.
Não sei se posso chamar de ajuda, mas na verdade o coitadinho do cérebro é enganado pela imagem e assim podemos trabalhar movimentos e reduzir tensões musculares. Não se sabe quanto tempo é necessário esse tratamento, só que é parte importante do processo de recuperação, da mesma forma que nas dores crônicas. Ainda é pouco conhecida no Brasil, vamos então passar as informações adiante.
Os três links abaixo são videos mostrando como é utilizada a Terapia do Espelho ou Caixa de Espelho
http://www.youtube.com/watch?v=YL_6OMPywnQ
http://www.youtube.com/watch?v=hMBA15Hu35M
http://www.youtube.com/watch?v=h0QiGj9eOOw&feature=player_embedded#
Como curiosidade, o final do 4º episódio de House MD da 6ª temporada mostra como a caixa de espelho funciona. O ilustríssimo Dr. House, com toda a sua fofura, ajuda um simpático vizinho a controlar sua dor insuportável de muitos anos. Só não é tão milagroso e imediato o final, ok???.
Artur Padão – Dorterapeuta
Onde posso comprar essa caixa.