Durante longos dias de carnaval no Rio de Janeiro, eis que a dor crônica cai de paraquedas na disputa do melhor bloco de dor. Foi uma apresentação memorável, misturando sofrimento e incapacidade no inicio, mas com controle e adaptação ao final. Abraços no início e aplausos no fim.
A disputa foi acirrada. Sua maior rival, a dor neuropática, apelou para o argumento das células da glia, mas não conquistou o público em geral. A dor musculoequeletica, campeã do ano passado, também veio com força. Já a dor por mecanismos cognitivo afetivos estava tão ansiosa que esqueceu as fantasias, chorando até o final do desfile.
Enfim, confira como foi a votação da dor crônica na Sapucaí:
Comissão de Frente (primeira cara)
Nota: 6 – – A primeira impressão não foi das melhores. Afinal de contas, qual dor tem uma cara boa? Andava devagar, passando a mão na região dolorida, usava colar cervical e com receio de se movimentar.
Bateria (energia)
Nota: 7,5 – – O nível de cansaço foi evidente ao longo do desfile. Apesar disso, a melhora foi incrível pelas expectativas positivas. O batuque da sensibilização foi bem controlado.
Harmonia (entrosamento)
Nota: 8 – – a sensibilização, dor e incapacidade não estavam se entendendo no inicio. Bastou o inicio do samba no pé para tudo isso ser deixado de lado.
Fantasias (vestimenta pessoal)
Nota: 8.2 – – De uma forma geral, a carapuça era simples, sem cores vivas, meio deprê. Depois, com o controle da dor, tudo mudou.
Samba-Enredo (frases de efeito)
Nota: 8,7 – – Com um refrão memorável, “confete, serpentina e endorfina”, conquistou o público. Alguns trechos não agradaram como “se eu me acabar, ficou cheio de dor lombar” e “samba no pé, posso não, tenho sensibilização”.
Mestre-sala e porta-bandeira (condução)
Nota: 9 – – Apesar da ótima apresentação pessoal, ambos não estavam sorrindo e pouco entrosados. Parece que a dor estava meio intensa no início, mas a atividade trouxe alivio para a dor.
Conjunto (impacto geral)
Nota: 10 – – A dor crônica “detonou”!
Evolução (melhora ou piora ao longo do desfile)
Nota: 10 – – Do sofrimento e incapacidade ao controle e adaptação. Não poderia ter nota diferente.
Alegorias e Adereços (coreografia e entrosamento geral)
Nota: 10 – – Uns dizem que a dor crônica parece um teatro, com uma coreografia de sofrimento e incapacidade vista ao vivo. E foi isso que todos perceberam, especialmente a mudança comportamental ao longo do desfile. Nota merecida.
Clap! Clap! Clap! Clap!
Se movimente, se anime, se empolgue…melhore a dor!
Artur Padão