Ao pegar o ônibus para ir ao trabalho, observo uma senhora com dificuldades de pagar a passagem. Ela usava um imobilizador na mão e punho, até o cotovelo direito e fazia “caras de bocas” de dor. Visivelmente com limitações, ela passa a roleta protegendo a “mão machucada” e consegue um lugar para sentar. Eu, que sou um curtiDor de carteirinha, continuei de olho. Até que, esta senhora puxa de sua bolsa um estojo de maquiagem e começa a se maquiar dentro do ônibus, usando a mesma mão que ela expressou grande dor e incapacidade. E, assim, preparou o “shape” facial e desceu do ônibus sorrindo, bem diferente de sua entrada. Isso tudo durou menos de 5 min.
Quando falamos de incapacidades, entramos em um universo tão complexo como o estudo da dor, e talvez tão subjetivo também.
Apesar de nossa passageira estar com uma deficiência física (mesmo que momentânea), ela está incapacitada devido as limitações e restrições na participação de atividades. Porém, não é para tudo. As incapacidades dependem de fatores pessoais, emocionais e ambientais, diferentes contextos e por ai vai. Talvez pagar a passagem seja muito doloroso e sacrificante. Mas, pessoas fazem de tudo e superam seus próprios limites pela beleza e moda.
O manejo de incapacidades e da dor são desafios a serem superados quando falamos de problemas crônicos de saúde. Se olharmos por exemplo, para duas pessoas amputadas na mesma perna, o que faz uma usar cadeira de rodas e a outra muletas? Ambos tem a mesma deficiência, porém níveis de incapacidade funcional bem diferentes.
A dor pode ser tão ou mais incapacitante do que várias condições de saúde. E, o mais interessante, é que muitas vezes não são encontradas deficiências físicas, deformidades ou desvios que justifiquem tal incapacidade. É só olhar para a lombalgia crônica.
Dor e incapacidade são a praia do fisioterapeuta!
Artur Padão – Dorterapeuta