Em mais um evento sensacional, estiveram vários colegas fisioterapeutas interessados no estudo da dor, ou seja grandes Curtidores. O II Fórum Internacional de Fisioterapia Baseada em Evidências em Dor foi realizado em Campinas (SP) nos dias 07 e 08 de agosto, reunindo fisioterapeutas de todo o Brasil e gente de fora também.
Minha maior impressão é que, mesmo raramente encontrando a maioria dos colegas palestrantes, a linguagem seguia o mesmo rumo.
As minúcias da neurofisiologia e neurociência da dor demandam de conceitos básicos e simples explicações para melhorar nossa vida científica. Afinal de contas, amanhã estaremos todos conversando sobre dor, certo?
Da nocicepção a dor, podemos ter um longo caminho, onde cada um anda em sua própria velocidade, seja da transmissão de impulsos nocivos, seja do nosso tempo próprio para entender a dor. Mas, de alguma forma, aceleramos nossos neurônios no intuito de “corticalizar” (piada interna do cérebro) as experiências nocivas e/ou dolorosas que mudam nossas sensações e movimentos quando temos dor.
Hoje é bem mais claro o horizonte biopsicossocial, mas não significa que estamos indo nesta estrada. Para isso, para ser mais fácil, o trabalho interdisciplinar consegue reunir diferentes carros de corrida que desejam apenas cruzar a linha de chegada, sem se preocupar com o primeiro lugar. Desta forma, a fisioterapia precisa andar e calçar as “sandálias da humildade” e reconhecer que não dominamos o mundo doloroso.
O conhecimento sobre como, quando, onde e porque nossas técnicas funcionam no alivio da dor permite que uma sábia escolha apareça, mesmo que a escolha seja não usá-la. Cutucar músculos e juntas funciona (terapia manual); a vida dolorosa não é só lazer, tem o laser também; se o paciente “TENS dor”, ele pode ter MENOS dor; se a onda é mexer com o cérebro, nada como lhe dar um choque de realidade com a imagética motora gradual e a estimulação transcraniana, mesmo que seja numa direção galática.
O exercício físico no alivio da dor é uma ótima escolha, mas antes disso é saúde. Se movimentar fortalece o cérebro e alimenta nossa energia. Porém, a dor nos faz dar passos na direção do imobilismo e, para minimizar isso, nosso atendimento pode virar uma mesa num café da equina de seu consultório, tratando a dor com a devida educação e compreensão, não necessariamente científica.
Os subgrupos são o presente e o futuro da fisioterapia? Sim, para um pequeno grupo. Nem todos irão se interessar por isso, pois necessita de treinamento e investimento pesado para se chegar a um bom nível de habilidades. Infelizmente, nosso país não permite tal busca. Mas, será que os subgrupos são superiores? Só tempo irá dizer, pois novamente, um pequeno grupo de profissionais se dedica a tal modelo.
Ao mesmo tempo em que a ciência avança modernamente em explicar a dor e propor uma série de tratamentos baseados em evidência, me parece que os tratamentos baseados em crenças dominam nossas escolhas diárias por tratamentos biomédicos. Mesmo que a gente diga que a técnica fez a diferença, não foi um robô sem voz que a aplicou, certo? Antes disso, “a dor foi tratada com a devida educação”.
De que adianta um olhar clínico mais cognitivo e mais comportamental se a escolha final é técnica? Na verdade, muito do que se escolhe em fisioterapia dá certo, mas em tempos diferentes. As vezes no início, as vezes depois e quando não dá certo, mesmo assim, muitos continuam usando. Mas, a cognição e o comportamento estão presentes em qualquer momento. Não ame sua técnica, caso contrário, a técnica se torna mais importante que você.
E assim foi o evento: muita ciência, casos clínicos, opiniões pessoais, um clima muito amigável, diversão e várias amizades dolorosas. E chegamos lá. E todos os participantes se levantaram e fizeram o “Juramento do Curtidor”: “Eu, que sou um curtidor, prometo nunca mais, jamais, em hipótese nenhuma, confundir dor, com nocicepção”.
Seja um Curtidor, não Curta sentir dor.
Artur Padão – Dorterapeuta