LER e DORT: aonde vocês foram?

Quando eu era criança pequena lá em Copacabana e durante minha vida acadêmica, as Lesões por Esforço Repetitivo (LER) e os Distúrbios Ocupacionais Relacionadas ao Trabalho (DORT) dominavam o linguajar dos serviços de atendimento a saúde do trabalhador. E na fisioterapia não era diferente. Tendinites e outras “ites”, dedos em gatilho, síndrome do túnel do carpo estão entre os problemas mais diagnosticados, dentre os cerca de 30 distúrbios da lista do INSS.

O INSS começou a usar estes 2 termos em 1998, que na verdade representam esforços repetitivos e componentes ergonômicos, levando a dor crônica, com múltiplos outros componentes neurais e musculoesqueleticos em decorrência do trabalho. LER pode surgir com outras atividades de uso excessivo, mas a DORT é no trabalho em si.

Em 2008, cerca de 145.000 brasileiros receberam diagnósticos de LER/DORT, saltando para mais de 3.5 milhões de pessoas com este diagnóstico em 2013. Que coisa! Um número muito expressivo, mas porque não falamos mais sobre LER/DORT como falávamos antigamente? O que mudou?

Dentre as mais dolorosas teorias temos:

1. Não encontramos “ites”

De uma forma geral, os problemas dito inflamatórios decorrentes de esforços repetitivos não apresentam sinais e sintomas inflamatórios durante o exame dos paciente. Como dizer que uma “ite” existe se não encontramos inflamação? Isso é comum nas tendinopatias e síndrome do túnel do carpo.

2. Dor e lesão são incompatíveis

Existe uma relação desproporcional entre quantidade de dor e quantidade de lesão, além claro de encontrarmos queixas de dor sem relação nexo-causal com lesão de tecidos e também encontrarmos lesões sem queixa de dor, o que é comum nas dores de coluna.

3. Nos afastamos do BIO

O encantamento com os fatores psicosssociais como causa ou amplificação dos sintomas dolorosos fez e está fazendo os profissionais de saúde se afastarem das causas e/ou fatores biológicos da dor, que é o foco da LER/DORT.

4. Outros diagnósticos

Estresse, ansiedade, depressão e outros diagnósticos estão super presentes no dia a dia dos trabalhadores, provocando sintomas dolorosos e que se mistura a queixas musculoesqueléticas com muita frequência.

A LER/DORT estão presentes, meio deixadas de lado, mas com força total em diversos tipos de trabalho no dia a dia dos brasileiros. Como fisioterapeuta, minha maior preocupação é entender o impacto destas condições na funcionalidade das pessoas. Não é só capacidade funcional não. É o nível de atividade, sono, atividade sexual, atividades básicas do dia a dia, rotina, exercício físico, funções mentais e por ai vai.

Artur Padão

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