Palavras que Doem

img_palavrasquedoem_01Já dizia minha bisavó (que não conheci), minha avó, mãe e também a super sogra: “cuidado com o que você fala menino, as palavras tem poderes”.  Por mais cabeça dura é a total verdade, que nem a Lei de Murphy explica. Tenho certeza que cada um terá sua maravilhosa explicação através da religião ou pela Força Jedi. Hoje vamos falar o que ainda não foi falado: como e porque certas palavras podem aumentar ou provocar dor, com um pouquinho mais de ciência.

Um exemplo é a palavra Fibromialgia. Só de ouvir já dá arrepios dolorosos.

Outro exemplo é a palavra Flamengo. Só de ouvir já dá um nó doloroso no estômago. Estou até me sentindo mal em falar.

Um estudo publicado este ano na revista Pain (dor) foi feito por psicólogos da Universidade de Friedrich Schiller na Alemanha e que pegou 16 Jovens saudáveis estudantes para um experimento com vários tipos de palavras, 40 no total, que foram divididas em 4 grupos:

  1. Relacionadas a Dor – ex. excruciante, esgotado, atormentado
  2. Positivas – ex. beijando, refrescando, esquentando
  3. Negativas – ex. sujo, fedido, mofado
  4. Neutras – ex. cubo, forma oval, auditório

Sendo assim, eles deveriam realizar duas tarefas:

  1. Imaginar uma situação que correspondesse com a palavra que aparecia na tela do computador. Ex. paralizante, cansativa, sujo
  2. Decifrar um quebra cabeça e ler a palavra no computador ao mesmo tempo, para tentar distrair a pessoa.

Com isso, foi passada uma xerox do cérebro (Ressonância Magnética Funcional) durante as duas tarefas.

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O resultado final foi que as palavras que estavam relacionadas à dor provocaram maior atividade no cérebro, mais precisamente  nas áreas relacionadas aos comportamentos de evitação, medo, ansiedade e memória. Essas áreas também se ativam nas situações que precisam de nossa atenção. Enfim, a dor faz com que a pessoa mude o foco para a própria dor, chamando a atenção para si mesma, de forma egoísta.

:. Áreas ativadas na tarefa de imaginação: percepção da dor (dimensão cognitiva)

– Córtex pré frontal dorsolateral – área de planejamento do movimento, organização, memória, ajudando nas reações e comportamento das situações que passamos.

– Giro parietal inferior – percepção das situações e sensações (Justo estar aumentado).

– Pré cuneus – atenção. A dor demanda maior foco para a própria dor

:. Área ativada na tarefa com distração:

– Cíngulo anterior ventral – emoção e motivação. Mesmos distraídos a dor provoca reações que trazem significados para cada um de nós.

:. Área com a atividade diminuída:

– Cíngulo anterior dorsal – identificação e resposta aos estímulos. Depende muito de como iremos reagir ao estímulo de dor, pois é muito pessoal. Será ficar com medo? Correr ou fugir? Combater de frente?

As palavras podem ser capazes de gerar curto circuitos no cérebro, na neuro matrix. As áreas mais ativadas no exame foram aquelas relacionadas aos comportamentos de evitação, medo, ansidade: Sistema Límbico, sistema das emoções. A memória das experiências de dor que temos fica lá armazenada. Vale a pena ler o artigo da Herta Flor, psicóloga, sobre Memórias Dolorosas.

Se passamos pela mesma situação dolorosa ou outra parecida, as memórias podem vir a tona, provocando reações dolorosas mesmo que não tenha acontecido nenhuma lesão.

Um evento que foi importante para a pessoa é suficiente:

“comecei a sentir dor quando meu cachorro morreu”. Ao lembrar-se deste evento e vir aquela melancolia ou saudade a dor pode aparecer novamente.

“minhas dores começaram quando tive a primeira DR com minha namorada”. Anos depois, durante ou após um nova infeliz DR, podemos lembrar daquela primeira marcante e como foi a dor, trazendo novamente a memória de dor.

Enfim, isso irá variar de acordo com as experiências de vida de cada um de nós.

O que aprendemos com isso?

As palavras podem ajudar ou prejudicar o tratamento.
As palavras podem aumentar ou diminuir sua dor.
Pensar positivamente ajuda, negativamente piora.
Se o foco está na dor, ruim. Se o foco está em outros aspectos, melhor.

Ainda será necessário fazer um estudo deste em pessoas com dor crônica, para ver como que o cérebro reage a essas palavras. Provavelmente outras áreas estarão ativadas por causa do curto circuito.

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É isso ai. cuidado com a palavra dolorosa falada e pensada. E para lembrar o que descobri recentemente e é altamente relevante na nossa vida: A lagosta não sente dor como nós. Pode cozinhar viva a vontade que ela não vai se sentir emotiva. Até mesmo passear com ela.

Abraços,
Artur Padão Gosling – Pada

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