O que faz duas pessoas se tornarem grande amigas? Afinidade, coisas em comum e reciprocidade (lindo). São essas qualidades que unem a fisioterapia e a terapia cognitivo comportamental, uma das áreas de estudo da psicologia em várias condições de saúde.
Já que a dor é a nossa praia, a dor então aproxima estas duas áreas de trabalho. E elas tem tudo a ver uma com a outra. Mas, será que estamos preparados para essa proximidade toda que é proposta? A amizade realmente existe ou é apenas uma fachada?
Colocar em prática conceitos da psicologia apenas lendo livros e artigos não é para para qualquer peixe. É necessário haver treinamento, desenvolver habilidades e principalmente, colocar em prática. Mas, isso não acontece. Raros são os treinamentos de terapia cognitivo comportamental no manejo da dor para não psicólogos. E este é um caminho de pedras portuguesas soltas na orla de copacabana. A chance de você tomar um tombo é grande.
Se olharmos para a formação acadêmica da fisioterapia brasileira, veremos vários aspectos em comum com a terapia cognitivo comportamental, mas passando longe de desenvolver habilidades para tal manejo. Acho bastante perigosa essa proximidade excessiva do modelo biopsicossocial, onde se valoriza os aspectos psicológicos e nem temos habilidades para tal “tato” no dia a dia. Mas, a gente aprende. É possível!
Recomenda-se o treinamento de terapia cognitivo comportamental com psicólogos para desenvolver algumas habilidades. Dentre as estratégias mais abraçadas pelos fisioterapeutas estão a educação em dor, habilidades narrativas e a exposição gradual.
Ler artigos não é suficiente. Bote a boca no trombone e melhore a qualidade do seu atendimento. Quer cutucar os pensamentos e comportamentos do paciente? Faça certo e com segurança. Lembre-se que a responsabilidade sempre é sua das condutas que você prescreve. Mexeu com as emoções erradas, paciência!
Uma crítica importante a fisioterapia brasileira é a tentativa de abraçar o mundo, fazer tudo, resolver tudo e querer ser vista como algo acima de todas as coisas. Este é um pensamento bastante limitado da fisioterapia, tendo em vista que desenvolvemos habilidades diferentes dos médicos e psicólogos, por exemplo. Mas, mesmo assim, queremos fazer diagnósticos clínicos e mexer com os pensamentos do paciente. Esse não é meu papel como fisioterapeuta. Primeiro, é importante saber o que a gente pode. O restante é secundário.
Não venda o que você não tem habilidade para fazer! Todos saem perdendo! Venda a qualidade do seu trabalho e não o nome de sua técnica. Se capacite para utilizar estratégias cognitivo comportamentais com psicólogos e outros profissionais experientes em nesta área de atuação. E use as estratégias para ganhar função, tirar o paciente da inércia e ajudá-lo a entender melhor seu doloroso problema.
Mas, mesmo assim. Se um fisioterapeuta aprender mais sobre a terapia cognitivo comportamental, será que não fará o papel do psicólogo? Em teoria não, mas se quiser pagar de psicólogo, transformar a sessão de fisioterapia em “sessão de terapia” do GNT ou simplesmente achar que vai “levar todo mundo no bate papo”, verá um túnel sem fim.
Posso falar com tranquilidade a vocês. Realizei pelo menos 6 treinamentos em dor sobre psicologia em dor, incluindo terapia cognitivo comportamental nos últimos 13 anos, fora os treinamentos em equipe sobre saúde mental. E lhes garanto: pé no chão quanto as emoções e comportamentos. O fisioterapeuta não está preparado (ainda) para lidar com essa “carga”. Essa é a praia da psicologia e psiquiatria.
É isso ai.
Artur Padão
Olá Artur!!! Sou Psicóloga TCC, tenho feito cursos na área da dor, estou fazendo um trabalho junto com um Fisioterapeuta e tenho visto como e importante a equipe interdisciplinar dentro do tratamento da dor. Cada um dentro da sua área, com os seus saberes, mas juntos o sucesso é maior com certeza, inclusive no tratamento da dor!!!