Colocar em prática o que aprendemos para atender os pacientes com dor é uma tarefa incrível, porém complexa. É colocar o “pingo no i” todas as vezes, o que na prática não ocorre. Nem tudo é tão certinho assim, inclusive os resultados de pesquisas científicas.
E para ajudar a organizar a casa é que a Prática Baseada em Evidência (apelidada carinhosamente e dolorosamente de PBE) está na ponta da língua de muitos colegas da área da saúde. Show! E da língua para fora, conseguimos colocar em prática toda a essência da PBE? Duvido muito.
Além do excesso de PBE em todos os cantos virtuais e científicos, a sensação é de mais fadiga do que dor. E isso ocorre por vários motivos: falta de habilidade para ler (em inglês) e interpretar as evidências, poucas habilidades técnicas para aplicar a intervenção e não dar o braço a torcer quando o tratamento não alcança o poder de efeito estudado.
Mas, vamos falar a verdade e colocar as cartas na mesa. Não interessa para a maioria das pessoas fazer PBE. Estar na ponta da língua pode nem chegar perto de colocar da boca pra fora. Há muitos conflitos de interesse que a gente deveria abrir mão para usar a PBE no dia a dia. E se a “mão for aberta” não irá balançar o berço confirme a música.
A medida em que se conhecem os resultados das evidências científicas, não podemos ignorar mais. Não podemos fechar os olhos para o que a ciência já mostrou. Podemos simplesmente não usar. Isso sim fica a critério de cada profissional. Mas, saiba que a escolha depende do terapeuta e não do artigo. E por isso, para a maioria dos profissionais de saúde, entrar no clima PBE é praticamente impossível.
Cansei de ouvir sobre PBE. Não porque não ache importante, mas parece que a discussão não sai do lugar. Não era mais para estarmos quebrando a cabeça para introduzir seus conceitos na área da saúde. Era para ser algo já implícito, como um currículo oculto. Mas, não! A PBE não conseguiu mudar o panorama sobre o manejo da dor em todo o mundo. Por exemplo, para a dor lombar aguda, recomendações como repouso, cintas e paracetamol prevalecem ao invés de manter o paciente ativo. E quem gosta de se movimentar quando tem dor aguda? Difícil de entender a ilógica entre recomendação e prática.
Fadiguei de ouvir sobre PBE. Faça chuva ou faça sol, as pessoas tendem a não modificar suas condutas, especialmente se elas dão certo na prática. E com esse simples argumento, a PBE toma uma baita rasteira infelizmente.
Espero que a fadiga passe sim. Sempre acreditei que precisamos usar a ciência a favor do paciente, para lhe oferecer o que existe de melhor, o que já ou está sendo estudado para aumentar as chances de resultados positivos e dar segurança ao tratamento. Mas, como já dizia o mestre “jaiminho, o carteiro”, prefiro evitar a fadiga.
Artur Padão