O curso natural da dor é começar como dor aguda e melhorar ao longo do tempo. Isso acontece na maioria das vezes. Se a dor não melhora, evolui para dor crônica. Ter dor por muito tempo é diferente de ter um perfil dor crônica, que inclui múltiplas queixas regulares, sofrimento excessivo, incapacidade frequente, busca incessante por diagnósticos e tratamentos. Esse é o público que está sempre “em busca de um tratamento encantado”.
Dentro da organização do sistema de saúde, os pacientes com perfil dor crônica devem ser encaminhados a um centro de reabilitação em dor, conhecido também como “última esperança, final da fila, fim de linha ou último degrau da escada analgésica”. É lá que você comprova se a “esperança é a última que morre”, certo? Pelo menos é o que todo mundo fala, aposta suas fichas e não sabe o que fazer se não der certo.
A expectativa é muito alta para a solução do problema “dor” quando você está em um centro especializado. Teoricamente, é lá que os profissionais irão resolver o problema “dor” que ninguém mais foi capaz de resolver. É lá que está a esperança que ainda não morreu. Mas, se a dor não melhora e as expectativas não foram atendidas, qual o próximo passo? Morrer?
Não é incomum pessoas com perfil dor crônica terem idealizações suicidas e tentarem sim encerrar com sua vida. Se não há mais esperança, o que fazer com a vida? Cerca de 30% destes paciente pensam sim sobre suicídio. Devemos ficar de olho sempre, sempre e sempre! Quem efetivamente vai tentar, não saberia dizer.
Ok, vamos olhar para os 70% que querem continuar a viver, mas a esperança morreu depois do tratamento ultra especializado não resolver. As pessoas seguem suas vidas depois de situações frustrantes, como por exemplo insucessos de tratamentos, mas também depois de casamentos, namoro, trabalho, brigas e discussões no facebook. A vida segue. Muitos esperam a cura da dor em um local especializado, mas as vezes a cura da dor significa ter mais controle sobre a dor, viver melhor, ter menos dificuldades e, claro, recuperar parte da vida diária.
No final das contas, a expectativa é a chave dourada da cidade.
Em vários filmes e séries, espera-se sempre que o bem prevaleça sobre o mal. Dois filmes marcantes falam sempre “ainda existe esperança”, como em Senhor dos Anéis e Star Wars. Apesar de tudo, do mal engolir o bem na maioria das vezes, “ainda há esperança”. E no final das contas, o bem prevalece, mas não tão bem como antes. O bem agora tem histórias tristes para contar, cicatrizes, perdas, alguns ganhos, insucessos e segue sua história. Na dor crônica é a mesma coisa!
A sua esperança morre se você for “desta para melhor”. Ao contrário, sempre terá uma nova esperança de estar melhor, apesar da dor!
Artur Padão