Manipulação visceral? O resultado é nada visceral!

“Quando eu era criança pequena lá em Barbacena”, meus colegas fisioterapeutas adoravam mexer com as vísceras dos outros. Não é a toa, colocar a mão no paciente mexe sim com o mais visceral dos estados que a terapia manual pode nos proporcionar. Mexe com a dor profunda, com a emoção, com o estado de espírito. Mexe na víscera e não mexe, entende?

“Captei! Captei a vossa mensagem, amado mestre!”. A manipulação visceral é uma das técnicas mais controversas de todas. A proposta é, por meio das mãos (terapia manual), avaliar a mobilidade das vísceras abdominais. Acredita-se que a falta da mobilidade visceral seja responsável por problemas em suas funções específicas, causando sintomas e também dor. Melhorar a mobilidade da víscera, em teoria, teria como resultado o alivio dos sintomas.

Será que a mão do terapeuta é capaz de detectar os movimentos viscerais alterados? Nossas mãos podem fazer muita coisa, até coisas que não imaginamos fazer, porém quando o quesito é detectar alterações de movimento das vísceras com a mão, de acordo com a última revisão sistemática de 2018 sobre o tema, não é nada confiável. Os estudos avaliados nesta revisão foram todos de osteopatia e fora do Brasil. Lembre-se que a osteopatia é profissão em alguns lugares do mundo e não precisa ser fisioterapeuta, como é aqui no Brasil – sem mimimi fisioterapêutico, hein). https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5816506/

“Não complica, explica”!

Realmente não dá para confiar na mão que balança o berço, ou melhor, que balança a víscera. Quando os terapeutas eram avaliados sobre sua capacidade de identificar a mesma coisa, que no caso é a alteração da mobilidade visceral, o resultado foi ruim. É a mão mesmo. A mão não é confiável, só a sua é confiável para você mesmo! Como é em outras técnicas como liberação miofascial, mobilização articular, neurodinâmica e afins.

E o tratamento com manipulação visceral, funciona? Para a ciência não funciona nada! Os estudos são inexistentes e não há nada o que se discutir ou questionar neste sentido! E para o clínico, que coloca a mão na massa (ou melhor, na víscera), funciona? Com certeza, as vezes! Então, sempre “há controvérsias”. Claro, é muita inocência acreditar que as mãos curam, ou melhor, mexer nas vísceras. E esse é o mesmo resultado para a tal da terapia craniosacral. Agora, resumir osteopatia, quiropraxia, outros métodos posturais que mexem com as vísceras em técnicas de tratamento é mais do inocência humana: é ignorância. O artigo é explicito sobre a técnica e não sobre o método, conceitos, filosofia ou qualquer outra coisa do tipo.

”Então, não me venha com chorumelas”. Devo aplicar manipulação visceral no paciente que eu acho que tem disfunção visceral? Não! Calma, calma, não criemos pânico, vai que rapidinho aparece um estudo novo favorável, certo? “É vapt-vupt”.

E se o resultado é nada visceral, não preocupe. Existem tantas opções terapêuticas disponíveis que o meu fígado vai aguentar a bebedeira científica. “Ai eu vou pra galera”!

Artur Padão

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