Gradação das atividades: minha carta cognitiva na manga

dor e pacingUm dos problemas mais comuns em pessoas com queixas de dor persistente é a dificuldade de realizar tarefas, atividades ou exercícios físicos devido a dor. Isso acaba favorecendo as incapacidades funcionais, bem como o isolamento social de, por exemplo, ir a igreja, ir ao cinema, passear na rua, tomar um açaí na esquina e até mesmo sair de casa.

Dor e limitação funcional fazem parte do pacote, mas não são sinônimos. Em algum momento, todas as dores irão produzir alguma incapacidade, com níveis diferentes e com limitações diferentes. 

Quando o jogo parece perdido para o paciente, eis que surge a carta cognitiva na manga do terapeuta “ixperrrrto”: o pacing ou gradação da atividade. Esta é uma estratégia cognitivo comportamental para ajudar as pessoas a auto regular o nível de atividade, encontrando um meio termo entre os dois extremos – imobilismo e sobrecarga.

Tenha “pacing-ência”. Iremos substituir a atividade guiada por motivação e o “coração brasileiro que não desiste nunca” por uma atividade guiada por quotas pré-determinadas. Funciona mais ou menos assim: se eu quero fazer um exercício ou tarefa ou realizar alguma atividade, vou planejar isso antes para evitar ou minimizar o surgimento da dor. Assim, posso me movimentar, aumentar o condicionamento físico, me expor e ter mais chance de ficar feliz.

Tenha mais “pacing-ência”, pois a regra é clara! O imobilismo e a sobrecarga fazem mal a saúde.

Vamos seguir com um exemplo recente. A paciente tinha dor constante na região lombar e ao ficar mais de 1 hora sentada, de pé ou andando tinha um aumento abrupto da dor e necessitava fazer repouso deitada para o alivio. Vamos ao que o “pacing” diz (passo a passo):

1. Determinar a atividade – – ex. caminhada
2. Determinar a tolerância – – 1 hora
3. Definir uma linha de base – – velocidade “passeio no shopping”, 50 min começa a ficar doloroso (limiar) e o limite (tolerância) é de 1 hora
4. Intercalar a atividade com repouso

Com essas informações, vamos organizar a gradação da atividade para esta paciente em quotas pré-determinas entre 50 a 80% da sua tolerância.

A paciente irá caminhar na velocidade “passeio no shopping” em 3 quotas de 20 min, intercalando 5 min de repouso (que pode ser sentado). Assim, pode manter o tempo total de sua atividade sem ter aumento abrupto da dor. Além disso, com a regularidade, pode obter os efeitos benéficos do exercício.

Essa estratégia é legal, funciona, aumenta a confiança e possibilita o retorno gradual as atividades. Pode ser um agachamento, pode ser mastigar um alimento, pode ser o tempo fora de casa.

Tenha mais que “pacing-ência”…cumprir a meta faz toda a diferença.

Artur Padão

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