Na avaliação, ocorreu tudo bem apesar das queixas múltiplas de dor e de um monte de coisas a mais. Você já tem suas hipóteses sobre o que está rolando com o paciente e o paciente entendeu tudo o que vocês conversaram até o momento.
Enfim, vem aquela pergunta que belisca atrás da orelha: vou melhorar?
A resposta para a dolorosa questão está inserida em múltiplos fatores que podem tornar o tratamento um sucesso ou simplesmente um fracasso total, com direito a reclamações no SAC.
As expectativas sobre o resultado do tratamento rolam entre Dolorosos e Doloridos, ou seja, entre terapeutas e pacientes. Para ambos, encontrar uma solução do outro lado das portas da esperança é o que se espera. Lembre-se que solução não necessariamente é resolução e o alívio da dor pode não aparecer da forma esperada.
Precisamos ter os pés no chão para as coisas darem certo. Por exemplo, na dor aguda, se espera que a dor melhore e não volte, dentro de um contexto ideal. Ambos esperam. Uma dor aguda (intensa), tem um significado de algo potencialmente grave, uma doença ou patologia.
Uma dor persistente ou de longa data, também espera-se que vá embora. E as vezes não vai. São outras expetativas, como buscar a cura, solução, entendimento do problema ou até mesmo um melhor controle. A dor lombar crônica, por exemplo, tem tantas expetativas diferentes pois mal se consegue entender o que ocorre. Tudo junto e misturado.
Outro ponto, talvez o mais interessante é a gravidade. Não a fronteira final, mas o quão grave entende-se que é o problema. O que esperar, por exemplo, de uma dor de cabeça? Isso varia de um simples músculo tenso até um tumor ou hemorragia. O que esperar de uma dor lombar? Isso varia de um simples “dormir de mal jeito” até um “você pode ficar paraplégico”. Esse é um bolo de crenças, cultura, experiências passadas, exames de imagem, religião e por ai vai.
Abrir as portas da esperança é oferecer uma solução a um paciente dolorido, que busca múltiplos entendimentos sobre o seu problema e que irá apostar que vai encontrar algo do outro lado da porta. Não se decepcione se não aparecer nada, um representante do sistema nervoso ou opioide natural que estava meio adormecido. Mas, devemos sempre esperar pelo melhor, mesmo que o de melhor não apareça. Isso é esperança. Isso é expectativa. Isso é ser profissional. Isso é jogar limpo sempre.
Pés no chão, expetativas reais e dedos cruzados ao abrir as portas da esperança. Certo, Lombardi?
Artur Padão