Quando a principal definição de dor que a ciência “diz que usa” apareceu oficialmente em 1994, foi deixado bem claro que sentir dor é vivenciar uma experiência desagradável. De lá pra para cá, a dor virou quase um personagem animado, com gestos, emoções, comportamentos…com sinais, sintomas, prognóstico e, o maior complicaDOR de todos, um diagnóstico.
Como fazer o diagnóstico de dor lombar? Mais fácil impossível. Basta colocar a mão na região lombar e dizer que dói. Como fazer o diagnóstico de dor cervical? Batata. Basta colocar a mão na região cervical e dizer que dói. Os motivos são os que nos levam ao diagnóstico, pelo menos deveria. Entretanto, quase que a totalidade de diagnósticos para dor lombar, por exemplo, são chamados de inespecíficos. Ou seja, ninguém sabe de onde vem.
Se a dor é uma resposta do cérebro a uma ameaça a integridade do sistema, como poderia ser a dor uma doença? Pior ainda, um diagnóstico? Talvez a neurociência não tenha todas as respostas, mas de uma coisa ela tem razão: é o cérebro, “parceiro”.
Talvez os três melhores exemplos de “diagnóstico” em dor sejam dor crônica, dor neuropática e “dor psicológica”.
* É de groselha, que parece de limão, mas tem gosto de tamarindo *
Uma cisma universal “patologizou” a dor crônica, diagnosticando-a de doença. Tratar uma doença pode seguir vários caminhos e a dor crônica pode ter uma avenida Brasil pela frente. E se um paciente com dor crônica não ficar sem dor, será um doente para sempre? Confuso hein?
* É de limão, que parece de tamarindo, mas tem gosto de groselha *
A dor neuropática aparece em quase todos os livros e artigos como um diagnóstico. Quando vamos ao site da IASP (www.iasp-pain.org) e buscamos a definição dos termos (Taxonomy / terminology terms), fica mais “doloroso” entender que a dor neuropática é um mecanismo, que possui um sistema de identificação (revisado em 2016). Portanto, o diagnóstico envolvendo a dor neuropática é da lesão ou doença que envolvem o sistema nervoso somatosensorial, e não da dor.
* É de tamarindo, que parece de groselha, mas tem gosto de limão *
Propositalmente, a “dor psicológica” é um termo a ser abandonado para ontem e um diagnóstico que nunca existiu. E se vem do cérebro, é claro que “de louco todo mundo tem um pouco”. Quando usamos esse termo, dizemos que a dor é causada (diagnosticada) pelo estado psicológico, e fortalecemos ainda mais “a minha dor é imaginária”.
E quando não se encontra um diagnóstico para a uma dor? Questionamento socrático – – quem disse que dor precisa de diagnóstico? É uma experiência, que parece um diagnóstico, mas tem toda a pinta de mecanismo.
Artur Padão