Dentre todos os temas que envolvem o estudo neurofisiológico e neurocientífico da dor, a sensibilização central é como a disputa do oscar de melhor filme. Existem vários concorrentes, que querem sensibilizar o sistema nervoso. Mas, nem todos conseguem agarrar os olhos do público e crítica.
A sensibilização central é nada mais nada menos do que uma resposta amplificada do sistema nervoso central ao diversos estímulos que somos capazes de identificar e interpretar. Como um barulho de alerta ou alarme, a sensibilização central aguça nossos sentidos, faz com que tudo seja percebido com mais facilidade. Isso é aumentar a nossa atenção a tudo e todos.
Nesta primeira parte, vamos ver os pontos positivos e negativos do sistema ficar assim, “meio que não me toque”.
Porque é necessário ter este alarme? Simples: proteção! Existe um cuidado natural para minimizar ou evitar qualquer ameaça que possa nos causar prejuízos. Vamos ver o exemplo da gripe. Um virus invade nosso corpo. A sensibilização central aumenta nosso alerta e vários sistemas acordam para a vida, como o imunológico, motor, parassimpático e os que produzem dor. Com isso, nossos sentidos ficam mais aguçados: dói mais, a luz incomoda, o barulho enche o saco, o movimento é difícil, o sono e cansaço estão lá.
Agora vamos ao exemplo de espinhas no rosto, graças a deus nunca tive espinhas na adolescência. Uma bactéria invade a pele e provoca uma série de efeitos, como a inflamação, dor, hiperalgesia. Proteger a região é necessário, então a sensibilização central aumenta nosso alerta para o cuidado com a espinha adolescente.
Portanto, é muito importante a sensibilização central para resolver os próprios problemas que querem perturbar o nosso sistema. Isso volta ao “normal” após a ameaça ter sido mandada embora.
A grande questão é: o que isso tem a ver com a dor?
Vários são os mecanismos que podem manter o sistema nervoso central sensível, desde a própria persistência da dor, falhas próprias do sistema e também lesões. Isso fica para a parte 2. Se por um acaso o sistema não desliga o seu alerta, é muito fácil agora perceber tudo. Então, o que não deveria incomodar, agora incomoda. O que não deveria doer, agora dói. Isso tudo porque aquilo que não parecia ameaçador, agora é. Mesmo um simples barulho, mesmo a luz da sua casa, mesmo dobrar o tronco para a frente, mesmo a presença da sogra querida. Há!
Sintomas sem explicação aparecem, que fazem um tour pelo corpo e sem destino, a pele que dói so de tocar…culpa da sensibilização central que não desliga o seu alarme. Temos e devemos aprender a desligar esse botão.
Até o próximo encontro na parte 2. Tenho certeza que será dolorosa!
Artur Padão – Dorterapeuta