Crônicas dolorosas 16: uma esponja de dor

dor e espNa rotina de atendimento de pessoas com dor crônica persistente, surge uma grande aliada no combate educativo contra a dor: a esponja.

Eis que a conversa dolorosa se inicia:

Atendida: “A dor que sinto na perna e no glúteo me dá a impressão de que existe uma esponja de dor acumulada o tempo todo”.

Atendente: “Que legal! O que você acha que acontece quando a gente espreme uma esponja cheia de água?”

Atendida: “A água sai e a esponja começa a secar, certo? Então acho que precisamos fazer isso para a dor ir embora”

Atendente: “Isso mesmo. Eu posso ajudar a espremer e você também. Afinal de contas, a esponja é sua, certo? Queremos ela o mais seca possível, mas não enrugada. Ah, e limpa também. Ninguém merece esponja suja e mal lavada”

Atendida: “Rs Rs Rs. Entendi. Então, animada e descontraída como o Bob Esponja…”

Atendente: “Com certeza. Vamos buscar novamente a amizade entre você e sua perna, da mesma forma que Bob Esponja e o Patrick são amigos, sem incluir o Lula Molusco (pontos dolorosos) e o Plancton (dor neuropática), que deixam você dolorida”.

Um bate papo doloroso entre quem atende e quem é atendido faz muita diferença na forma como a dor é compreendida. A conversa tem que fazer sentido e ter uma lógica. E as demandas são muito individuais, como a esponja de dor. Pode ser que outras pessoas tenham suas esponjas doloridas no corpo, mas cada uma tem a sua própria marca.

Cabe ao atendido decidir se irá ser amigo do Bob Esponja ou brigar com ele pela receita do hambúrguer de siri. Desenhos também são educação em dor.

Artur Padão – Dorterapeuta

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