Você chega em casa para almoçar e percebe uma fumaça preta saindo do apartamento vizinho. O morador abre a porta desesperado com um balde de água na mão e o ar condicionado pegando fogo. Após várias tentativas frustradas de apagar o incêndio com água, eis que de forma mágica surge o porteiro com um extintor de pó químico. Rapidamente as chamas são controladas, ainda com fumaça preta saindo. Estava na cara que houve um curto circuito, o que é comum no verão do Rio de Janeiro.
Trocando de ambiente, vamos ao nervoso sistema nervoso. Sentimos dor pois nosso cérebro achou necessário produzir dor para nos proteger, sendo a ameaça pequena, média, grande, imensa ou galática. Mas, a quantidade de dor sentida não depende da quantidade de ameaça identificada. E nem se vamos sentir. A dor é nada mais nada menos do que uma resposta do sistema a ameaça.
A dor é a queixa mais comum em serviços de saúde e por isso insistimos em aliviar / tratar a dor o quanto antes. Mas, se a dor é uma resposta a ameaça, porque então insistir em tratar a resposta? A queixa de dor para o paciente é como a queixa de fogo para o incêndio. “Aliviar” o fogo garante o controle do incêndio?
Infelizmente não e o mesmo funciona para a dor. Ao insistirmos no tratamento da dor, estamos contribuindo para a cronificação da dor. Hein!?
Vejamos o caso do incêndio. O fogo é a dor (resposta). Porém, não esqueça que para chegar ao fogo ocorreram uma série de eventos prováveis:
Curto circuito na rede elétrica?
Ar condicionado em “crise”?
Oxigênio do ambiente?
Uso de água?
Então, apagar o incêndio é modificar a resposta (dor) e não se apaga fogo sempre com água. É preciso saber o que mantém o interruptor de dor ligado no sistema nervoso, sendo a dor aguda ou crônica.
Então, não tratamos a dor. Tratamos os motivos pelo qual o sistema nervoso não desliga, sendo este um curto-circuito próprio, seja as influências do ambiente ou até mesmo controlando melhor suas respostas, incluindo a dor. Se a dor fosse o foco, era fácil usar analgésicos, que podem descer como água ou doce em pacientes com dor persistente. Porém, analgésicos podem nem fazer nem cócegas. Então, o alivio da dor é consequência!
E para ser bem biopsicossocial e educativo (tem que ser né), tratamos o paciente com dor. Nada mais!
Artur Padão