Muito me intriga os diversos modelos de educação em dor, que se propõe a ajudar os pacientes a entender seu problema doloroso e, consequentemente, ter alivio. A forma como a pessoa pensa a respeito de sua dor terá uma potencial influência sobre o aumento ou diminuição dos seus sintomas. O Brasil ocupa posições bem longe no ranking de educação. Então, já sabemos que isso é um problema, inclusive para a dor.
Tenta-se ajudar, mas na verdade acabamos atrapalhando ainda mais. Nem todo mundo está afim de entender sobre a dor ou ao menos se interessa sobre o tema. Muitos querem apenas ter o alivio e nada mais. Se vem do cérebro, do osso, da alma ou de fora da terra, só será importante se fizer sentido para o “dolorido”.
Cito o exemplo da acupuntura tradicional de países orientais. Como explicar ao paciente algo que não faz sentido para sua vida, como por exemplo “fogo no fígado” ou “calor no pulmão”? Só fará sentido se a filosofia da acupuntura “entrar em seu sangue”. Isso faz sentido sim para alguém, talvez mais para o acupunturista do que o paciente. Tem uma lógica, mas que se torna ilógica no contexto ocidental.
Outros modelos de assistência a saúde tem bases extremamente filosóficas e com explicações únicas e pessoais, como a dor também é. Só entende a dor quem a sente. Portanto, só entende a lógica de um músculo encurtado, por exemplo, o psoas (que fica dentro da perna) gerar um “pequeno puxão” no fígado, diafragma, pericárdio, faringe e finalmente nos ossos da cabeça, quem pratica essa lógica hipotética. E isso nada tem a ver com dor ou lesão tecidual, infelizmente. O dia que um músculo da perna causar dor de cabeça, a neurociência encerra seus trabalhos e “pede pra sair”.
A educação que fala de anatomia do corpo ou do movimento das estruturas do corpo é sim um exemplo da prática diária dos profissionais de saúde. É um modelo bem mais lógico do que os citados acima, pois é mais fácil para a população compreender (estamos no Brasil). Mas, não necessariamente explica os motivos da dor. Dentre as hérnias, artroses e “entendinopatias”, está o paciente esperando alguma coisa (não necessariamente sobre dor). Não vale a pena empurrar goela abaixo algo que não lhe ajudará. Cai sempre no mesmo problema: a forma de falar e explicar.
Mesmo com os avanços da neurofisiologia e neurociência da dor como forma de educação, acredito que se copiarmos os modelos que vem de fora, eles irão falhar. O problema, na verdade, não é modelo e sim a escolha mal conduzida pelo profissional. E educação em dor é dependente da demanda, ou seja, cada um tem a sua necessidade.
Quer saber sobre a artrose? Show!
Quer apenas ter alivio? Relax!
Quer saber sobre sua dor? Caveira!
Quer uma explicação? Explique, se vire, tente, invente, mas leve uma lógica para o problema que o paciente traz, que faça sentido, que possa realmente lhe causar impacto, que o paciente possa ter suas escolhas. Afinal de contas, pessoas não são experimentos de laboratório ou anatômicos de faculdade.
Oferecemos a educação em dor para a saúde!
Artur Padão