Ter dor, fazer um exame e não encontrar nada que justifique a dor. Essa é a realidade de muitos em busca de uma explicação para seu doloroso problema. E quanto mais exames, mais frustração e dúvidas sobre o que está causando a dor. Muitas vezes, pessoas são chamadas de loucas, sugerindo-se um problema da própria cabeça ou uma dor imaginária.
A dor crônica é sim um problema que carece exames complementares, não se encontrando a clássica relação 1 + 1 = 2. Mas, a dor está lá, outros sintomas estão lá, existe incapacidade, existe perda da qualidade de vida. E agora, quem poderá nos explicar?
Para isso, a Associação Internacional para os Estudos da Dor fez uma mega, ultra, giga publicação em 2011 chamando a atenção dos profissionais de saúde para para as Síndromes Dolorosas Funcionais (SDF), que estão presentes em cerca de 15% da população mundial.
Na verdade, este grupo de SDF mostra que os sistemas do corpo funcionam de forma disfuncional, ou seja, de forma irregular, uns com mais atividade, outros com menos atividade e sem uma causa específica para isso ocorrer. Resumindo: não tem dano, lesão, doença, patologia. Tem sim uma disfunção afetando o funcionando normal, por exemplo, das vísceras, dos sistemas analgésicos, atividade muscular e endócrina. Todas as SDF cursam com hipersensibilidade do sistema nervoso. Quem?
Esse é um fenômeno que indica um excesso de sensibilidade que influencia os outros sistemas do corpo, sem uma causa aparente, sem um início específico, ou seja, ninguém sabe de nada. Alguns fatores genéticos já foram estudados, mas que clinicamente estamos a ver luz numa sombra. Outros tentam explicar por meio de altos estresses psicológicos na vida de uma forma geral, o que amplifica os sintomas dolorosos e desrregula os sistemas. Uma teoria um tanto quando interessante e aplicável no dia a dia. Sugiro a leitura acadêmica e dolorosa do texto abaixo:
https://academic.oup.com/bjaed/article/16/10/334/2288619
Dentre as SDF mais famosas, temos na passarela:
– Fibromialgia (fatídica)
– Síndrome do intestino irritável (bem irritado mesmo)
– Síndrome da bexiga irritável (irritado demais)
– Disfunção temporomandibular (sem nada na ATM)
– Dor cardíaca crônica (dor que dói no peito, mas não é cardíaca)
E ai? O que faremos com isso tudo? Tem controle? Tem tratamento.
Tem sim. Tem controle. Tem tratamento. Isso não significa cura ou resolução completa dos sintomas. O alivio dos sintomas e a melhora das incapacidades faz a vida fluir melhor. Recomenda-se tudo o que sempre foi recomendado para a saúde das pessoas:
– Boa alimentação
– Hábitos saudáveis
– Melhorar o sono
– Se exercitar regularmente
– Reduzir os estresses
– Ser ativo no dia a dia
– Conhecer sua condição de saúde
– Entender as limitações
Quando foi necessário tratamento para os sintomas e a redução da hipersensibilidade:
– Medicações
– Psicoterapia
– Recursos físicos
– Orientações e esclarecimentos
E os tratamentos da vovó:
– Chá de canela de velho (dizem que cura tudo)
– Pomada vovô pedro
– Lenço com álcool local
– Fita vermelha com a baba da mãe na testa
– Emplastro sabiá
A SDF é assim: tudo fica fora dos eixos, mas a gente tenta dar um rumo as coisas, organizar melhora a casa e buscar o alivio da dor.
Artur Padão
Muito bom!
Que bom que gostou. Abraço