Prática baseada em evidências em dor: Quem?

dor e obeEm 2002, a expressão Prática Baseada em Evidências (PBE) apareceu pela primeira vez na minha frente. Nenhum dos meus colegas a conhecia, pouco se escrevia sobre o assunto, especialmente na fisioterapia. Eu já gostava de estudar dor, mas quem era a PBE?

Naquela época, aprendi que tratar dor era simplesmente aplicar meios físicos, com nomes de pessoas “famosas”, e tudo era explicado pela Teoria das Comportas (https://dorterapeuta.wordpress.com/portfolio/teoria-das-comportas-simples-namorinho-de-portao/). Também aprendi que tratar dores no ombro implicava em alongar todos os músculos ao redor do ombro e pescoço. Ilógico? Insuficiente? A PBE “me prometeu” olhar as coisas de forma diferente.

De lá pra cá, o discurso da PBE cresceu absurdamente em todo o mundo. A fisioterapia mundial arrecadou várias fatias desse bolo científico a partir dos estudos de controle motor. Do mesmo jeito que parecia resolver a falta de integração entre a experiência clínica e as melhores evidências disponíveis, será que a PBE ajudou ou atrapalhou o controle da dor?

A PBE veio com força nos últimos anos ajudando os profissionais de saúde a prescrever de forma mais segura suas condutas para o controle da dor, desde o uso de medicações até meios físicos da fisioterapia, exercícios e outras modalidades já bastante usadas. Mas, lembre-se: a PBE não decide por você e sim você que decide por ela.

Ao mesmo tempo, tratamentos com resultados a desejar, já “detonados” pela ciência e até mesmo alguns que produzem mais prejuízo do que benefícios continuam sendo usados em todo o mundo.

Paracetamol? Corticóide? Artrodese lombar? Kinesio taping? RPG? Pulseira magnética? Todas receberam um “não” da ciência dolorosa. Porém, todavia, contudo, recebem um “sim” da prática clínica diária de muitos profissionais. Se não existe integração entre a pesquisa e a prática, não existe PBE. Ler artigos em inglês não é fazer PBE. Pegar um resultado de um ensaio clínico e aplicar no seu paciente, só porque ele tem dor lombar está longe de fazer PBE.

Ao invés de ajudar, a PBE está se complicando. Ou melhor, as pessoas estão complicando a vida da PBE e não conseguindo resolver suas questões clínicas e ignorando a PBE. Digo isso por vários motivos: 1. A maioria dos artigos são escritos em inglês (caso você não saiba ler em inglês, deu zebra); 2. Os resultados dos artigos “fazem questão de ser complicados”; 3. Quem realmente entende os gráficos e tabelas?; 4. Boa parte dos resultados dos artigos não fazem parte da prática clínica dos profissionais ou são conflitantes com suas próprias habilidades; 5. Dentre outros.

Já perceberam que, no final das contas, as evidências atrapalham. Nos resta então, a experiência clínica e o que nosso paciente nos diz. Então, 90% dos nossos profissionais fazem “prática baseada em experiência”, levando-se em conta (as vezes) os valores do paciente.

Talvez a gente não precise tanto da PBE, quase ninguém liga pra ela, igualzinho a CIF (Classificação Internacional de Funcionalidade). Eu digo que precisamos sim da PBE, se queremos melhorar a qualidade dos serviços de saúde, se queremos melhorar nossa capacidade de escolher a melhor intervenção que o paciente precisa. Precisamos da PBE para aumentar a segurança de nossas escolhas, minimizas as iatrogenias e elevar o nível de ciência para a prática clínica.

Mas, curtidor, se você não liga pra isso, você não faz PBE. Você apenas faz o que precisa ser feito para ver seu paciente bem. Talvez sem dor. Certo? Errado? Apenas funciona!

Curtidores PBE cuidado: não pratique roleta russa de uma bala só!

Artur Padão – Dorterapeuta

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