DOER OU NÃO DOER, EIS A QUESTÃO

Talvez umas das maiores dúvidas mundiais intergaláticas de aplicar intervenções físicas para o tratamento da dor é saber se devem ou não ser dolorosas.

Parece uma ideia meio simplória, boba ou meio sadô mazô. Na prática clínica, é comum aceitarmos como normal ou esperado sentir dor na acupuntura, liberação miofascial, terapia manual, massagem, exercício físico, alongamento ou usando corrente elétrica.

Não há problema destas modalidades serem dolorosas. Então, qual é o problema? Pessoas mais sensíveis, intolerantes a dor ou amedrontadas por vários motivos tendem a se dar mal com intervenções que podem provocar dor. Eis que doer será então um peso nas costas, aumentando-se a probabilidade do tratamento fracassar feio. Começamos então a observar que nem tudo será bom pra todo mundo.

Como escolher entre doer ou não doer?

1. Atenção ao que você irá falar: conversar, explicar e querer se aproximar do paciente podem ser pontos chave para você escolher um tratamento mais doloroso, por exemplo. “Perde aqui, ganha ali”.
Existem explicações neurofisiológicas que mostram que quando aplicamos uma intervenção mais dolorosa, o próprio sistema nervoso reage ficando menos nervoso (efeito contrairritante, ativação do sistema endógeno).

1. Atenção a sensibilização: quanto mais nervoso estiver o sistema nervoso de seu paciente, escolha técnicas menos dolorosas ou indolores. Provocar dor aumenta a sensibilização e vice versa. Escolha técnicas que o paciente se sinta seguro de receber. Mais ameaça, mais sensível e mais dor!

2. Atenção ao limiar de estímulos: entenda quais os estímulos podem ser dolorosos em seu paciente e trabalhe dentro de uma linha de base por quantidade de tempo ou carga. Para fazer isso, tem que usar mais tempo da consulta conversando e menos tempo aplicando técnicas.

3. Atenção a tolerância: pacientes sensíveis são menos tolerantes a dor, mas conheça um pouco sobre os limites para não ultrapassar da “linha amarela do metrô”. Evite provocar dor e principalmente não se aproxime do limite.

4. Atenção a meta do tratamento: se a meta for o ganho de função, se não tem jeito de evitar a dor, faca na caveira = missão dada é missão cumprida. Irá doer, irá aumentar a sensibilização, irá gerar mais medo, mas sempre buscando a meta. Foco e persistência são amigos íntimos do ganho de função.

Doer ou não doer, eis a dolorosa questão!

Artur Padão

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