Custos cansativos no manejo da dor lombar crônica

No universo dos serviços de saúde, especialmente do privado, a maioria dos profissionais contam seus casos de sucesso no controle da dor lombar. Poderia dizer que 80 a 90% das vezes fica tudo bem. Mas, como a ciência já sabe, somos muito mal informados e super influenciados pelas mídias.

Talvez um dos maiores investimentos em saúde no manejo da dor seja diretamente ligado aos cuidados à dor lombar. E não é apenas aliviar a dor não. Temos as incapacidades, perdas de produtividade, afastamento do trabalho, processos trabalhistas, aposentadoria, exames, tratamentos em si (todos os tipos imagináveis), manutenção de serviços, acompanhamento do paciente. E isso é só o começo. E isso tem um custo. E em 2010 nos Estados Unidos (onde se tem número para tudo), o custo estimado de tudo relacionado a dor foi entre 560 a 635 bilhões de dólares. Nem precisa calcular em real. E cada ano, aumenta mais.

No manejo da dor lombar aguda, a “orientação científica” é esperar a ação da mamãe natureza, se claro não houverem suspeitas de problemas graves, o que gira em torno de menos de 10% dos casos. Mas, todo mundo faz exame e trata. Já no manejo da dor lombar crônica, começa o abacaxi. Uma estimativa de 40% de eficácia dos tratamentos (de uma forma geral) é festa tupiniquim. Bem longe do que individualmente vemos na prática diária privada. Porque essa inconsistência?

Se pensarmos em planos de saúde, por exemplo, um tratamento (uma intervenção) para dor lombar crônica pode custar de 5 reais até 30 mil reais, de um meio físico a uma cirurgia e ambos com o mesmo efeito. Um analgésico simples pode custar menos de 10 reais e caminhar 30 min por dia só custa o tempo de caminhada.

Vimos uma paciente que em menos de 1 mês fez 3 ressonâncias e 3 tomografias, em um hospital privado e usando seu plano de saúde, com dor lombar “intratável” e na espera de uma segunda cirurgia de artrodese. Fora o consumo abusivo de analgésicos fortes e bem caros. Talvez neste mês, o custo desta paciente ao serviço de saúde possa ter se aproximado de 100 mil reais. Com a internação, no total foram gastos mais de 1 milhão de reais. E não se descobriu a causa de sua dor. A dor é na lombar, mas o problema não é lombar.

Por isso, do serviço privado, a gente não consegue enxergar a real situação caótica, catastrófica, emblemática e iatrogênica que é a dor lombar crônica. A melhora de 40% é muito ruim, é quase inútil ao paciente. E aqui no Brasil, essa massa que não melhora está ai. Chutaria que uns 10% da população brasileira usa o serviço privado de manejo da dor. E no SUS e planos de saúde está a grande massa da população.

Já sabemos que tudo é caro, dói o bolso. Já sabemos que se o paciente com dor lombar for primeiro ao fisioterapeuta, o custo é bem menor e o paciente melhora mais rápido, faz menos exames, menos procedimentos cirúrgicos. Mas, essa não é a realidade. Por mais que a ciência nos mostre os dados, o sistema gasta mais e mais. E tem gente que gasta, mas tem gente que ganha. Em um hospital privado de SP, em 2013, os custos foram reduzidos em 158% usando-se tratamento conservador ao invés de cirurgia. Dos 419 pacientes com indicação cirúrgica inicial, apenas 103 operaram. Mudança radical. Isso dói no bolso de muita gente, e que não gostaram nada. Mas, isso só favorece o paciente, pelo menos é o que aprendemos quando esticamos a mão direita e juramos solenemente em nossa formatura.

Com os avanços da tecnologia, tratamentos cada vez mais caros são oferecidos a população, mesmo com pesquisas científicas fracas e com resultados semelhantes a tratamentos tradicionais. Sendo conservadores ou cirúrgicos, não importa. Os números sobre dor e incapacidade funcional lombar só aumentam a cada ano. Então, os tratamentos não estão resolvendo a cronicidade e/ou controlando a cronicidade. Dor lombar ainda é tratada como problema de coluna. E sabemos que dor lombar é problema de saúde!

A dor lombar crônica deveria ser encarada como um problema de saúde pública, poeticamente e potencialmente incapacitante e que detona a vida do paciente. Mas, não é assim que a banda toca. Só oferecer alivio da dor não é suficiente. Falta oferecer saúde e cuidado. Por isso, a maioria das técnicas de tratamento propostas pelos profissionais de saúde acabam sendo inúteis na dor lombar crônica. Técnica? Qualquer um que treina aprende. Mas, quando trocarmos a técnica pelo cuidado e assistência, ai sim podemos oferecer uma saúde melhor. Ai sim, talvez, tenhamos mais eficácia no manejo da dor lombar crônica.

E menos incapacidade! E menos custo! E menos dor!

Artur Padão

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