Como um tratamento funciona? Ou não?

Na mídia social, todo mundo tem 100% de eficácia com tratamentos para dor. Tem que ter, pois se não tem, a clínica fica vazia. É um fenômeno interessante, pois na vindas da prática do dia a dia, a história pode não ser tão diferente assim. Entre as idas e vindas da prática baseada em evidência, tentamos encontrar os melhores artigos que nos mostrem o efeito positivo dos tratamentos para a dor, sendo medicação, recurso físico, acupuntura, exercício, aconselhamento, cirurgia, terapias alternativas, tratamentos falsos ou esperar a ação da mamãe natureza.

E o que define um tratamento eficaz? É sobre este mistério da dor que os estudos do tipo ensaio clínico tentam revelar. Tenta-se entender o quanto um tratamento pode ser eficaz, buscando sua pureza e o seu real efeito em si. E quando um ensaio clínico coloca essa carta na mesa, ou seja, mostra que a técnica em si chegou junto placebo, o terapeuta mimimi entra no modo mimimi fabio assunção sexta feira a noite.

Então, melhora quanto?

Existe uma estimativa de eficácia pura (ensaio clínico) entre 50 a 60%. O resto inclui fatores que se misturam ao efeito da técnica, nos chamados confundidores. Imagine que você está num momento light e fit, resolve preparar aquela salada clássica com vários ingredientes para saborear de forma mediterrânea. Mas, adiciona um molho ou azeite que toma conta dos sabores e isso confunde sua degustação. O crocante é batata ou bacon? É cenoura ou beterraba?

Os fatores confundidores representam mais ou menos 40% da eficácia do tratamento. E são eles:

– A história natural do problema doloroso: a melhora iria acontecer de qualquer jeito, tratando ou não tratando. São as leis da natureza

– Regressão para a média: o acaso, a sorte, a energia positiva e “estar preparado” para receber a terapia criam um ponto fora da curva

– Efeito Hawthorne: leia sobre o estudo de hawthorne nos EUA. Ele mostrou que incentivar, elogiar, ajudar, motivar e “energizar” as pessoas fazem com que elas modifiquem seu comportamento e com maior produtividade. Fazer isso com seu paciente pode lhe garantir menos dor. É o “paciente que todo mundo quer atender”.

– Placebo: Ahhh, o placebo! O tratamento falso que traz alivio da dor.

– Viés de confirmação: Se eu amo minha técnica, então o paciente vai melhorar sim. Eu digo que a técnica é feita pra ele, então o paciente vai melhorar! Confirmar as próprias certezas.

– Viés de memorização: lembrar dos eventos passados pode ter maior influência (termo estatístico).

– Relação terapeuta x paciente: uma boa relação garante melhores resultados.

– Expectativas positivas: vai melhorar, vai melhorar, vai melhorar.

– E além disso: educação, carinho, atenção, escutar sua história, participar ativamente da avaliação, foco na pessoa, se minha clínica é limpinha, bem arrumada, se estou bem arrumado, de jaleco, cheiroso, boa pinta, se minha secretária é atenciosa e um monte de outras coisas, a pessoa melhora.

Então, e a piora? Quanto?

Se o paciente piorar com seu tratamento, de acordo com Russo (1993), é porque a gente:

– Pegou duas medidas de estupidez

– Juntou trinta e quatro partes de mentira

– Untou a forma previamente com promessas não cumpridas

– Adicionou a seguir o ódio e a inveja

– Com dez colheres cheias de burrice

– Mexeu tudo e misturou bem

– E não se esqueceu de antes de levar ao forno, temperar com essência de espirito de porco

– Com mais duas xícaras de indiferença

– E um tablete e meio de preguiça

Artur Padão

 

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